“Amar a si próprio é o começo de um amor sem fim.”
Oscar
Você se ama? Nutre amor e afeto por si mesma?
Esta pergunta, um tanto provocativa, nos convida a pensar sobre como anda nossa autoestima e o que temos feito para cultivá-la.
Muito se fala sobre autoestima e existem diferentes definições para o termo. Podemos compreendê-la como sendo o resultado do entrelaçamento de um conjunto de fatores que estão diretamente relacionados à visão que nutrimos em relação a nós mesmas. Estes fatores permeiam a questão da autoimagem, o valor que nos damos, o amor que nutrimos por nós mesmas e a percepção que temos acerca da mulher e da pessoa que somos.
A autoestima também está relacionada à capacidade que possuímos de confiar em nós mesmas, de nos percebermos capazes de enfrentar os desafios que se apresentam em nossa vida, gerenciando as emoções de forma criativa e saudável e sabendo expressar, tanto para nós como para os outros, as próprias necessidades, desejos e limites.
Você sabe como se constrói a nossa autoestima?
Não nascemos com autoestima formada. Ela se constrói no decorrer da nossa trajetória existencial por meio do convívio com nossos pais, cuidadores, irmãos mais velhos e demais familiares que iluminam ou enfatizam alguns aspectos percebidos ou projetados em nós.
Com isso, vamos recebendo diferentes mensagens a nosso respeito. Essas mensagens influenciam a formação de nossa auto percepção. É possível que algumas dessas mensagens iluminavam ou reforçavam o que tínhamos de melhor, nossas qualidades. Outras, por sua vez, o que tínhamos de negativo ou o que nos faltava, nossos defeitos.
Ao entrarmos na escola, outras pessoas passaram a fazer parte de nossa vida e nosso ciclo social, entre elas professores, colegas, funcionários da escola, vizinhos que, pela convivência, também emitiram suas percepções a nosso respeito.
Como nascemos sem uma percepção definida acerca de nós mesmas e não possuíamos maturidade cognitiva e emocional, introduzimos muitas dessas mensagens como “verdades” e construímos uma percepção distorcida a nosso respeito a partir do julgamento ou opinião de terceiros a nosso respeito.
O tempo passa e não questionamos a veracidade dessas mensagens tidas como verdades e que sustentam nossa percepção, muitas vezes distorcida, de nós mesmas. Estas “verdades” se manifestam com frequência em nosso diálogo interior e podem gerar sofrimento, como:
- sentimentos de inadequação,
- fracasso ou menos valia,
- insegurança,
- medo da rejeição,
- medo de críticas,
- humor deprimido,
- ansiedade,
- culpa,
- cobranças,
- comportamentos de autossabotagem,
- necessidade de controle,
- necessidade de agradar as pessoas.
Será que tudo o que ouvimos a nosso respeito, durante a infância e adolescência, condiz com a pessoa que somos hoje? Somos, de fato, tudo aquilo que falavam de nós e para nós?
É possível que nos surpreendamos com as respostas que podemos encontrar.
Além do que foi iluminado em nós, outros fatores podem afetar a construção da nossa autoestima. Estes fatores têm relação com as vivências e experiências com pessoas que desempenharam papéis significativos em nossa vida.
Um destes fatores tem relação direta com os pais, cuidadores, avós ou irmãos mais velhos que, em decorrência de seus medos e inseguranças, promoveram uma relação de superproteção conosco. A superproteção é justificada frequentemente pelo desejo de proteger, de cuidar de quem se ama, porém este cuidar é sem limites. Seus efeitos se tornam nocivos, pois promovem em nós a dependência afetiva, a insegurança e a imaturidade emocional.
Por outro lado, há pais, cuidadores, avós ou irmãos mais velhos difíceis de agradar. São muito exigentes. Por mais que fizessemos, nunca estavam satisfeitos. Nunca reconheciam nosso esforço ou empenho investidos. Alegavam que se foi bem executado, não fizemos mais que a obrigação.
Há também aqueles extremamente permissivos, que não estabeleciam limites, que não demonstravam muito interesse, que nos deixavam à sorte ou sob a nossa própria responsabilidade, com um excesso de liberdade absurdo ou de negligência.
Não podemos deixar de mencionar outro fator importante relacionado à violencia em suas diferentes manifestações, como: maus tratos, abandono, agressões físicas, psicológicas, abuso sexual e estupro, que além de machucarem o corpo e a alma, geram traumas difíceis de superar.
Críticas destrutivas, comparações, palavras que magoam e humilham, fracasso escolar, procrastinação também afetam a construção de uma autoestima saudável.
É possível mensurar a autoestima?
Nossa autoestima não é algo estático e nem deve ser. Ela está em movimento, em processo. Quando ampliamos o autoconhecimento e trabalhamos crenças distorcidas a nosso respeito, vamos nos limpando e libertando das opiniões alheias que carregamos conosco e passamos a ter uma percepção mais fidedigna em relação à pessoa e à mulher que somos.
Com frequência utilizamos o termo autoestima elevada ou baixa autoestima quando desejamos quantificar a autoestima de alguém. Todavia, o que de fato importa observar é se possuímos uma autoestima saudável.
Quando nossa autoestima está fragilizada podemos apresentar vários sintomas, como:
- sentimentos de menos valia;
- ausência de autoaceitação;
- crenças de identidade, incapacidade ou não merecimento;
- dificuldade em lidar com as emoções;
- dificuldade em estabelecer limites para outros e para si mesma;
- tendência a nutrir culpa;
- comparações frequentes;
- dificuldade em fazer escolhas e tomar decisões;
- pessimismo e pensamentos negativos recorrentes;
- preocupação extrema com a opinião dos outros a seu respeito;
- medo de ousar, arriscar e fazer diferente;
- responsabiliza os outros por seu sofrimento;
Com o decorrer do tempo, podemos desenvolver alguns transtornos e adoecer mental/emocionalmente, apresentando crises de ansiedade aguda, quadro depressivo, transtorno de pânico, ideações suicidas, uso de substâncias psicoativas (drogas e álcool), conflitos relacionais, prejuízos na vida acadêmica, pessoal e profissional.
Cultivando uma autoestima saudável
Como a autoestima não é algo estático nem estável, ela precisa e pode ser cultivada. Ações efetivas podem surtir significativo resultado, tais como:
- investir no autoconhecimento, pois quanto mais sabemos a nosso respeito menos nos tornamos refém da opinião dos outros, gerenciamos nossas emoções de forma saudável e assertiva.
- assumir a responsabilidade por nosso sofrimento e pelas mudanças que desejamos efetivar em nossa vida.
- respeitar nossos limites e dizer “não”, sem culpa, quando julgarmos necessário.
- exercitar a generosidade para conosco respeitando o fato de que somos humanas e podemos errar e aprender com nossos erros.
Muitas vezes não conseguimos nutrir nossa autoestima apesar de todos os nossos esforços. E tudo bem! Quando isso acontece é necessário respeitarmos nosso limite e buscar ajuda profissional de um(a) psicólogo(a) e, dependendo da queixa, fazer acompanhamento com psiquiatra para uso de medicação. Tudo isso faz parte de um tratamento.
Com ajuda profissional podemos identificar dificuldades, conflitos internos, crenças limitantes, traumas que nos impedem de cultivar uma autoestima saudável. Neste processo, vamos nos cuidando e, quem sabe, nos curando das feridas do passado e ressignificando-o a fim de que possamos viver o presente com presença e plenitude, conectadas às nossas necessidades, limites e desejos e projetando um futuro otimista e realizável.