Termos semelhantes:
Menopausa e alterações no coração, Climatério e as alterações do coração, Coração da mulher, Coração da mulher depois dos 40 anos, Menopausa, Menopausa precoce ou Climatério.
Menopausa é a parada definitiva da menstruação, resultante da perda da atividade dos ovários. Como os ovários são os responsáveis pela produção dos hormônios estrogênio e progesterona, nesse período ocorre a queda dessa produção.
Considera-se menopausa a interrupção da menstruação por 12 meses consecutivos ou após a retirada cirúrgica dos ovários.
O climatério é um processo natural, que compreende o período de transição entre a fase reprodutiva e a fase da pós-menopausa.
Nesse período de transição, as mulheres podem apresentar diversos sintomas, dentre os quais:
- fogachos;
- ressecamento vaginal;
- atrofia vaginal;
- perda de libido;
- insônia;
- irritabilidade;
- depressão.
O sistema cardiovascular, formado pelo coração e pelos vasos sanguíneos, é significativamente afetado, ocorrendo aumento de 3-7 vezes do risco de doenças cardiovasculares, como:
- infarto agudo do miocárdio (IAM);
- acidente vascular cerebral (AVC);
- doença arterial vascular.
Outras doenças também podem ocorrer, como hipertensão arterial sistêmica (pressão alta), dislipidemia (colesterol alto), síndrome metabólica e diabetes.
O estrogênio, principal hormônio feminino, protege o sistema cardiovascular, ou seja, é um aliado do coração. Ele facilita o fluxo sanguíneo, uma vez que estimula a dilatação dos vasos que levam sangue para o corpo e para o coração, conhecidos, respectivamente, como artérias e artérias coronárias. Após a menopausa, com a queda de produção desse hormônio, ocorre o enrijecimento dos vasos, provocando aumento da pressão arterial (hipertensão arterial sistêmica).
O estrogênio também possui outros fatores direta ou indiretamente envolvidos com o coração, e a queda de sua produção pode gerar, por exemplo, alterações metabólicas, uma vez que esse hormônio ajuda a insulina (hormônio ligado ao metabolismo dos carboidratos) a agir nos tecidos. Com a menopausa e a consequente queda de produção do estrogênio, os tecidos passam a apresentar dificuldade para captar a insulina, o que provoca um quadro de resistência à insulina diretamente associado ao aumento do peso, causando elevação da pressão arterial e aumento do risco de IAM e AVC, além de aumento do colesterol.
A queda da produção de estrogênio também pode piorar o perfil do colesterol, que, associado a maior perfil inflamatório, ajuda na formação de placas de gordura (aterosclerose), processo que favorece tanto o IAM como o AVC. As alterações de perfil do colesterol são secundárias:
- aumento de 15% do colesterol total;
- queda de até 25% do colesterol bom (conhecido como HDL-c);
- aumento de até 25% do colesterol ruim (LDL-c) e da apolipoproteína B;
- aumento dos triglicerídeos;
- aumento da homocisteína e da interleucina-6.
O aumento do colesterol ruim e dos triglicerídeos decorre da redução da atividade do estrogênio, que leva à diminuição dos receptores do fígado, provocando menor destruição do colesterol ruim (LDL-c, VLDL-c) e dos triglicerídeos.
O aumento dos triglicerídeos e das partículas conhecidas como VLDL-c decorre da menor atividade da enzima LPL, com consequente menor produção de VLDL-c remanescente. Os níveis de triglicerídeos também podem aumentar com a administração de terapia de reposição hormonal (TRH) por via oral.
Na menopausa ocorre, também, diminuição da atividade hepática da 7-alfa-hidroxilase, que reduz a síntese de ácidos biliares, diminuindo, consequentemente, a excreção de colesterol.
Com a chegada da menopausa, a presença de fatores como aumento da fome, ansiedade e distúrbio do sono provoca maior apetite e tendência à ingestão de alimentos mais calóricos e gordurosos, o que leva ao aumento de peso associado à maior tendência de depósito de gordura abdominal. A deposição de gordura na região abdominal está associada ao quadro de síndrome metabólica.
As alterações do sono, nesse período, também podem interferir no sistema cardiovascular, causando aumento do peso e maior risco de diabetes. Os distúrbios do sono provocam:
- maior ansiedade;
- maior irritabilidade;
- maior chance de depressão;
- maior desejo e consumo de carboidratos;
- maior chance de arritmia (o coração pode bater mais acelerado, descompassado);
- menor disposição para realizar exercícios físicos;
- aumento da pressão arterial;
- aumento do ganho de peso e obesidade;
- aumento do risco de IAM, AVC e outras alterações cardiovasculares.
A menopausa também pode aumentar o risco de depressão. Pessoas com depressão podem ter 30% mais chance de apresentar doenças cardiovasculares, por serem mais sedentárias e por apresentarem piores hábitos de vida, como tabagismo e etilismo. Esses hábitos também aumentam as chances de obesidade, hipertensão, alteração de perfil do colesterol e risco de doenças cardiovasculares.
Nas mulheres que apresentam menopausa precoce, ou seja, antes dos 40 anos de idade, o risco de apresentar doenças cardiovasculares é maior, pois os níveis de estrogênio caem mais precocemente.
A TRH pode ser uma opção de tratamento, porque melhora a qualidade de vida. O tratamento deve ser iniciado logo após a menopausa, antes dos 60 anos de idade, e não deve ser iniciada 10 anos após a menopausa.
A TRH precoce, antes de instalada a menopausa, protege o coração, mas deve ser evitada na forma de comprimidos, pois aumenta o risco de trombose, hipertensão e AVC. Na população com risco aumentado, a TRH não deve ser realizada por via oral. O estrogênio, utilizado por via oral, sofre a primeira passagem hepática, produzindo elevação dos triglicerídeos. Assim, em mulheres que apresentam hipertrigliceridemia, a reposição estrogênica oral pode desencadear aumento significativo dos triglicerídeos, com níveis superiores a 1.000 mg/dL, aumentando o risco de pancreatite aguda.
A TRH após a menopausa pode reduzir o LDL-c em até 20% a 25% e aumentar o HDL-c em até 20%. Entretanto, essa terapêutica nunca está recomendada com a finalidade exclusiva de reduzir o risco cardiovascular em mulheres no período de transição menopáusica ou da pós-menopausa. Nas mulheres com indicações ginecológicas para a TRH, pode haver benefício cardiovascular quando iniciada na transição menopáusica ou nos primeiros anos de pós-menopausa, na chamada “janela de oportunidade”. Contudo, nas mulheres que já apresentaram algum evento cardiovascular ou que apresentam alto risco para algum evento cardiovascular, a TRH deve ser interrompida ou não deve ser iniciada.
Atentar para os problemas que envolvem o coração é de extrema importância na fase do climatério, pois as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte no mundo.
No Brasil, 30% das mulheres morrem de doenças cardiovasculares, número 8 vezes maior que o de mortes por câncer de mama.
Doenças associadas ao coração são mais negligenciadas nas mulheres, principalmente o IAM, pois os sintomas podem ser inespecíficos e nem sempre a famosa dor no peito está presente.
A menopausa é uma fase normal e esperada da mulher, que deve ser acompanhada por um médico, para o tratamento adequado dos sintomas . Além do acompanhamento médico, algumas medidas são necessárias para que a mulher tenha melhor qualidade de vida, como:
- adoção de estilo de vida saudável;
- perda de peso;
- interrupção do tabagismo;
- diminuição da ingestão de álcool;
- redução do estresse, lançando mão, por exemplo, de meditação ou da prática de ioga;
- redução da ansiedade;
- realização de exercícios físicos regulares, pelo menos por 150 minutos/ semana de exercícios físicos de moderada intensidade ou 75 minutos/ semana de alta intensidade.

Dra. Adriana Resende
Cardiologista em Brasília, CRM-DF: 19762, RQE: 16304
Cardiologia | Ecocardiografia | Clínica Médica
“Cuidar do seu bem mais precioso para o ser humano é o meu dom, eu nasci para cuidar do outro. nesse cenário, a visão global do indivíduo com um todo é necessária para que ocorra um entendimento completo do coração e da vida. O nosso corpo é como uma orquestra na qual todos os órgãos possuem um papel único.”