O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma intolerância aos carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual e não preenche os critérios diagnósticos de diabetes mellitus franco.
É o problema metabólico mais comum na gestação com taxas de aproximadamente 17% com os métodos diagnósticos atuais, porém sua incidência vem aumentando em paralelo a obesidade na população.
Existem alguns fatores de risco que estão associados a maior frequência de diabetes gestacional, mas independente deles todas as gestantes devem realizar a investigação de DMG.
Os principais fatores de risco para DMG são:
- Idade materna avançada
- Sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual
- História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau
- Diabetes em gestação prévia
- Antecedente de óbito fetal
- Macrossomia fetal
- Hipertensão arterial
- Síndrome de ovários policísticos
- Uso de corticoides
Para o diagnóstico do diabetes gestacional deve-se solicitar na primeira consulta a glicemia de jejum.
Se o valor encontrado for ≥ 126 mg/dL, será feito o diagnóstico de diabetes mellitus prévio
(overt diabetes) diagnosticado na gestação.
Se a glicemia plasmática em jejum for ≥ 92 mg/dL e < 126 mg/dL, será feito o diagnóstico de DMG.
Em ambos os casos, deve-se confirmar o resultado com uma segunda dosagem da glicemia de jejum.
Caso a glicemia antes da 20ª semana seja < 92 mg/dL, todas as gestantes deverão realizar um a curva glicêmica ou TOTG ( teste oral de tolerância a glicose ) realizado no segundo trimestre, entre a 24a e 28a semanas de gestação. A gestante comparece ao laboratório em jejum , realiza a primeira coleta de sangue, após ingere 75 gramas de glicose oral, permanece no laboratório em repouso para as próximas coletas que serão realizadas em 1 hora e 2 horas após a ingesta da glicose.
Os valores considerados normais para o TOTG são:
- Jejum até 92
- Após 1 hora – 180
- Após 2 horas –153
O diagnóstico é confirmado quando pelo menos um dos valores encontra-se fora da meta.
O tratamento inicial do DMG consiste em orientação alimentar que permita o ganho de peso adequado e um bom controle metabólico.
A prática de atividade física também deve fazer parte do tratamento do DMG, respeitando-se as contraindicações obstétricas.
O acompanhamento nutricional é fundamental para ajuste de dieta através da escolha dos alimentos e combinações que favoreçam o bom controle das glicemias.
Deve-se dar preferência ao consumo de alimentos que contenham carboidratos com baixo índice glicêmico. A dieta com baixo índice glicêmico no DMG se associou à diminuição da necessidade de indicar o uso de insulina e menor ganho de peso ao nascer.
Após o ajuste da dieta com a nutricionista recomenda-se monitorar as glicemias capilares. Essa medida é feita colocando-se uma gota de sangue da ponta do dedo em uma fita reagente inserida em um aparelho chamado glicosimetro. Esse aparelho fará a leitura, mostrando no visor o valor da glicemia capilar, conforme ilustrado na figura 2.

Figura 2
Recomenda-se o monitoramento das glicemias capilares quatro vezes ao dia (jejum, pós café, pós almoço e pós jantar) nas gestantes com controle de dieta e naquelas em uso de insulina incluem-se as medidas pré-refeições, totalizando até 7 medidas ao dia.
O tratamento do DMG tem por objetivo minimizar ou até mesmo evitar as complicações decorrentes do mau controle glicêmico, entre elas:
- Feto grande para a idade gestacional ou macrossomia fetal;
- Polidrâmnio;
- Trabalho de parto prematuro;
- Ruptura prematura de membranas;
- Óbito fetal;
- Desconforto respiratório do recém-nascido;
- Na vida adulta síndrome metabólica, hipertensão e diabetes.
Após 2 semanas de dieta, se os níveis glicêmicos permanecerem elevados (jejum ≥90-95 mg/dL e 1 hora pós-prandial ≥ 140 mg/dL ou 2 horas pós-prandiais ≥ 120 mg/dL), deve-se iniciar tratamento farmacológico. Também pode-se utilizar o critério de crescimento fetal para início da insulinoterapia quando a medida da circunferência abdominal fetal for igual ou superior ao percentil 75 em uma ecografia realizada entre a 29a e a 33a semanas de gestação.
No caso de indicação/necessidade de iniciar tratamento farmacológico será importante mais uma vez o trabalho em equipe pois neste caso o endocrinologista será indispensável na equipe de cuidados com a gestante/bebê.
A insulina é a primeira escolha na terapêutica medicamentosa para controle glicêmico no período gestacional, devido à sua eficácia comprovada e à pequena passagem placentária, porém em algumas situações específicas o endocrinologista poderá considerar o uso da metformina.
Não se indica cesariana em razão do DMG, sendo a via de parto uma decisão obstétrica.
As gestantes com ótimo controle metabólico e que não apresentam antecedentes obstétricos de morte perinatal, macrossomia ou complicações associadas, como hipertensão, podem aguardar a evolução espontânea para o parto até o termo.
Quando apesar de dieta adequada e insulinoterapia não houver controle metabólico adequado o parto poderá estar indicado a partir de 37 semanas.
No caso de macrossomia (feto acima de 4000 gramas) está indicado o parto independentemente da idade gestacional devido ao risco aumentado de óbito fetal.
No pós-parto, os níveis de glicemia devem ser observados, suspendendo-se a insulina basal. Orienta-se também a manutenção de uma dieta saudável. A maioria das mulheres apresenta normalização das glicemias nos primeiros dias após o parto. Todas as gestantes com DMG deverão realizar novo TOTG após 6 semanas pós-parto pois o mesmo é considerado padrão-ouro para o diagnóstico de diabetes após a gestação
O aleitamento materno deve ser estimulado pois além dos benefícios ao bebê, está associado à prevenção do diabetes tipo 2 em mulheres com histórico de DMG.
A gestante com diagnóstico de DMG precisa de um bom acompanhamento pré-natal com equipe composta por obstetra, endocrinologista, nutricionista, educador físico e pediatra, profissionais que estarão orientando, informando e utilizando todos os conhecimentos disponíveis para um bom desfecho materno fetal.
Porém é preciso sentir-se acolhida e amparada pela família, evitando julgamentos e favorecendo um ambiente propício para melhora dos hábitos alimentares e prática de atividade física, que certamente contribuirá para o bem-estar e qualidade de vida de todos.
Fonte:
Protocolos assistenciais – Marcelo Zugaib – 5ª edição
Consenso SBD 2019-2020

Dra. Fernanda Torino
Ginecologista e Obstetra, CRM: 19772, RQE: 11733
Ginecologia e Obstetrícia | Pré-Natal de Alto Risco | Gestação de Alto Risco
“Conhecemos as várias funções exercidas pelas mulheres, por isso é necessário que o cuidado englobe todos os aspectos da vida . Sendo múltipla não pode ser tratada como parte.”